Yvonne do Amaral Pereira

“As únicas horas de alegria e felicidade que desfrutei nesse mundo devo à prática da Doutrina dos Espíritos exposta por Allan Kardec, e ao convívio espiritual com as entidades habitantes do Além.
O mundo nada me concedeu a não ser o ensejo para resgatar antigas faltas. Por isso mesmo amo essa doutrina, sirvo-a com amor, consoante as minhas forças, e certa estou da Verdade que ela encerra, pois o Além tem me concedido tesouros morais-espirituais inavaliáveis.”

 

Yvonne do Amaral Pereira. Rio de Janeiro, 21 de fevereiro de 1975.

Nascida em 24 de dezembro de 1900 (interior do Rio de Janeiro, Br, na Vila de Santa Tereza de Valença) e desencarnou em 19 de março de 1984, no mesmo estado, aos 83 anos de idade, sendo que 52 anos foram dedicados ao trabalho da mediunidade. Reconhecida como uma das maiores médiuns do Brasil, sua vida nos mostra uma existência muito sofrida e também voltada aos necessitados e sofredores. Chico Xavier se referiu a ela como a “heroína silenciosa”, referindo-se às lutas pessoais de Yvonne.

Desde a tenra idade, sua mediunidade já se apresentava: aos 29 dias de vida, foi tida como morta onde a família já tratava da cerimônia fúnebre quando sua mãe, a sós com a filha ainda no quarto, pede a Nossa Senhora que traga sua filha à vida novamente e a mesma volta a chorar (depois de seis horas passadas) quando estão lhe colocando uma coroa de pequenas flores sobre a cabeça. Foi a primeira vez que Yvonne ficou letárgica (catalepsia), o que iria acontecer outras vezes, quando se voltava a vivências no mundo espiritual. Desde os cinco anos, conviveu com desencarnados como se ali estivessem encarnados e com memórias claras de sua vida anterior. Isso criou muito desequilíbrio entre ela e sua família, principalmente com o pai, pois não o reconhecia como tal, já que o “verdadeiro pai” estava ali, presente e ela podia vê-lo com frequência. Requeria também suas ricas roupas, carruagens e tudo o mais que tinha no passado e custou a aceitar o que a situação da vida atual lhe oferecia. Viveu algum tempo com a avó, por conta das dificuldades de relação com a família. Aos doze anos seu pai lhe ofereceu O Livro dos Espíritos, e mesmo com pouco estudo, a leitura sempre interessou a Yvonne.

Mais tarde, foi esclarecido que o atual núcleo familiar lhe era totalmente novo, já que o núcleo anterior seguiu em suas existências, e ela precisou realizar resgates diferentes. Por suas experiências como suicida, é sensível ao tema por conhecer tal dor, e dedica-se então no auxílio desses espíritos sofredores, para que possam tomar consciência de seu estado atual, acolher sua dor e desespero, auxiliá-los a progredir. E foi a isso que dedicou sua vida. Durante muito tempo trabalhou como costureira e nunca casou ou teve filhos. Sua mediunidade era diversificada: realizava psicografias, era médium receitista homeopática, era médium de psicofonia, de materialização, de desobsessão, desdobrava-se e fazia viagens astrais encontrando com seus mentores e outros. Mas dedicava-se muito, sozinha e diariamente, ao trabalho de irradiação, tratando espíritos sofredores.

Há inúmeros relatos de amigos e dela mesma, em suas obras, de seu trabalho através da mediunidade. Não tinha receio de se expor, se isso viesse a ajudar aos necessitados. O que revela sua humildade e desejo de contribuir com a humanidade, pois em suas obras relata suas vidas anteriores, seus compromissos e “falhas morais”. Alguém que demonstrava muita compaixão ao ser humano e firmeza de pensamento, trazia o estudo da doutrina dos espíritos rigidamente, realizava a prática mediúnica dentro dos ensinamentos de Kardec. E assim foi até o dia de sua desencarnação, numa cirurgia cardíaca programada, na qual se despediu e afirmou aos familiares que não retornaria para casa pois naquele dia ela desencarnaria. Sua contribuição através de sua mediunidade, contou com aqueles que ela chamava de seus “guias” (mentores), sendo os mais presentes: Bezerra de Menezes, Charles e Roberto de Canalejas. Além de trabalhar com Léon Tolstoi, Inácio Bittencourt, Camilo Castelo Branco, Bittencourt Sampaio; e outros amigos do mundo espiritual que a tinham em grande conta, por todo o seu trabalho de amor. Segue trabalhando na espiritualidade, principalmente com irmãos suicidas.

 

As Suas Obras:

As suas obras são ricos tesouros para entender a doutrina dos espíritos, os processos de evolução através da lei de causa e efeito, mediunidade e misericórdia divina. Tem obras escritas desde 1926, mas decidiu publicá-las apenas na década de 1950, segundo ela mesma, após muita insistência dos "mentores espirituais". Dentre as mais conhecidas destacam-se:

Memórias de um suicida: (Rio de Janeiro: FEB, 1955. 568p.) – atribuída aos espíritos Camilo Castelo Branco e Léon Denis. Constitui-se num libelo contra o suicídio, considerado um marco na bibliografia mediúnica brasileira e o melhor exame sobre o suicídio sob o ponto de vista doutrinário espírita.

Nas voragens do pecado: (Rio de Janeiro: FEB, 1960. 317p.) - primeiro volume de uma trilogia atribuído ao espírito Charles, relata a trágica história do massacre dos huguenotes na Noite de São Bartolomeu (23 de Agosto de 1572), durante o que seria uma encarnação anterior da médium, na personalidade de Ruth-Carolina de la Chapelle.

O cavaleiro de Numiers: (Rio de Janeiro: FEB, 1976. 216p.) - segundo volume da trilogia, mostra outra encarnação da médium, ainda na França, na personalidade de Berth de Sourmeville.

Drama da Bretanha: (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 206p.) – terceiro e último volume da trilogia, ilustra como a médium, agora na personalidade Andrea de Guzman, não consegue suportar os embates de sua expiação e se suicida por afogamento.

Dramas da Obsessão: (Rio de Janeiro: FEB, 1964. 209p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, compreende duas novelas abordando o tema obsessão.

A tragédia de Santa Maria: (Rio de Janeiro: FEB, 1957. 267p.) – atribuído ao espírito Bezerra de Menezes, ambientado em uma fazenda de café em Vassouras (RJ), trata da história real de uma rica família escravocrata, sobre cuja uma tragédia se abateu.

 

Devassando o invisível: (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 232p.) – a autora desenvolve uma dezena de estudos sobre temas doutrinários, com base em suas experiências mediúnicas.

Recordações da Mediunidade: (Rio de Janeiro: FEB, 1968. 212p.) – a autora discorre sobre reminiscências de vidas passadas, arquivos da alma, materializações, premonição e obsessão.

Nas telas do infinito: (Rio de Janeiro: FEB, 189p) - apresenta duas novelas: uma atribuída ao espírito Bezerra de Menezes e outra a Camilo Castelo Branco.

Amor e ódio: (Rio de Janeiro: FEB, 1956. 553p.) – atribuída ao espírito Charles, foca o drama de um ex-aluno francês do Prof. Rivail (Allan Kardec), o artista Gaston de Saint-Pierre, acusado de um crime que não cometera.

Sublimação: (Rio de Janeiro: FEB, 1974. 221p.) – apresenta dois contos atribuídos ao espírito Charles (um ambientado na Pérsia e outro na Espanha) e três contos atribuídos ao espírito Leon Tolstoi (ambientados na Rússia).

Ressurreição e vida: (Rio de Janeiro: FEB, 1963. 314p.) – atribuído ao espírito Leon Tolstoi, compreende seis contos e dois mini-romances ambientados na Rússia dos czares.

À luz do Consolador: À Luz do Consolador (Rio de Janeiro: FEB, 1997. ) - colectânea de artigos da médium na revista Reformador, originalmente entre a década de 1960 e a de 1980.

 

Como escritora, publicou muitos artigos em jornais populares, e em 2014 foram publicados pela FEB, as obras inéditas da autora:

A família espírita

Evangelho aos Simples

As três revelações

Contos amigos

 

Referências:

Entrevista (em áudio) com Yvonne do Amaral Pereira, em 12 de março de 1978. Realizada pelo escritor Danilo Vilela, para a Rádio Rio de Janeiro.

 

 

Biografia de Yvonne do Amaral Pereira

TV da Federação Espírita Brasileira (publicado em agosto de 2014. Apresentador: Emanuel Albuquerque; entrevistada: Sandra ventura)

 

Estudando o Espiritismo

Entrevista com Elisabeth Operti (sobrinha de Yvonne do Amaral Pereira)

 

Filme publicado em 17 de Junho de 2017, Chico Xavier autografa Parnaso de Além Túmulo ao lado de Yvonne do Amaral Pereira. Os médiuns espíritas Chico Xavier & Yvonne Amaral Pereira juntos no primeiro filme colorido e as únicas imagens em movimento de D. Yvonne do Amaral Pereira, a grande médium espírita que, junto com Chico, encantaram o Século XX com suas extraordinárias mediunidades como nunca antes visto na história.” Realizado em 22 de Setembro de 1973.

 

Texto por Cristianne Sá Bez

 

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