CHICO XAVIER – Mais de 20 histórias!

Chico Xavier será sempre uma luz para a humanidade. A sua vida e as suas obras continuam a ser fontes vivas e ativas de inspiração e apoio. Motivados pela vontade de conhecer melhor a pessoa de Chico Xavier, e pela sede de nos instruirmos através do testemunho das suas vivências, reunimos mais de 20 histórias marcantes, narradas pelos seus amigos, admiradores e em certos casos, ele mesmo.

Esperamos que goste!

 

 

Um Minuto com Chico Xavier

Ensina-nos Allan Kardec, num estudo sobre o Magnetismo, registrado em “O Livro dos Médiuns”, que existem três tipos de maneiras de recolhermos o benefício do passe magnético (que ele chama de mediunidade de cura).
A primeira é através do magnetismo humano, ou animal, onde o magnetizador doa de seu próprio fluido, sem a interferência da espiritualidade; o segundo é o magnetismo espiritual, onde um Espírito pode agir, sem o concurso de um médium, diretamente sobre alguém; e o terceiro, e mais comum, é o misto, onde um Espírito utiliza-se de alguém encarnado para fazer essa transferência magnética.
A história que vamos ler, narrada por Ubiratan Machado e registrada no livro “Chico Xavier por ele mesmo”, editado pela Ed. Martin Claret, de São Paulo, nos mostra Chico recebendo um auxílio dessa natureza, doado diretamente por um benfeitor, durante um desdobramento espiritual, enquanto seu corpo físico estava adormecido. Vejamos a narrativa:

"Em 1946, Chico adoeceu de novo. O caso era grave. O corpo achava-se debilitado pelos constantes trabalhos. Sentia-se fraco, sem ânimo para nada. O diagnóstico era tuberculose.
Conta Ramiro Gama que, em certa manhã de sol, ao ver o médium tão triste, sentado à porta de casa, Emmanuel pôs-lhe a mão no ombro e disse: “Procure reagir. Sua enfermidade é tanto do corpo como do espírito. Não desanime. Se Deus quiser, vai ficar bom. Ao dormir, lembre-se de mim. Vou levar seu Espírito a um lugar muito lindo. Lá, ele será medicado”.
Ao deitar-se, Chico não se esqueceu do compromisso com o amigo. Adormecendo, viu-se passeando em Espírito por um jardim maravilhoso, com flores, como nunca vira na Terra. Lá no fim, sentado num banco e envolto numa luz alaranjada, estava um menino delicado. Emmanuel fez a apresentação. E, para surpresa do médium, o garoto segurou-o no colo com extrema facilidade. Passou as pequenas mãos luminosas pelo corpo de Chico, acariciou-o, apertou-o de encontro ao peito, e depois lhe disse sorrindo: “Pronto, está medicado”.

No regresso para casa, ainda no espaço, Emmanuel explicou-lhe: “Você recebeu um remédio de que estava muito necessitado: transmissão de fluidos. Pela manhã, vai acordar bem melhor, mais forte, sem cansaço e sem febre”.
A partir daí, o médium começou a melhorar, sarando rapidamente.

O Consolador

 

Receita para melhorar

Em julho de 1948, o nosso confrade Jacques Aboad, de passagem por Pedro Leopoldo, conversava, ao lado de outros confrades, em companhia do Chico, sobre os trabalhos os trabalhos de aperfeiçoamento da alma. A conversação deu lugar à prece em conjunto. E, manifestando-se, pelo médium, José Grosso, dedicado e alegre companheiro desencarnado, dedicou aos presentes os seguintes apontamentos:

Receita para melhorar
Dez gramas de juízo na cabeça.
Serenidade na mente.
Equilíbrio nos raciocínios.
Elevação nos sentimentos.
Pureza nos olhos.
Vigilância nos ouvidos.
Lubrificante na cerviz.
Interruptor na língua.
Amor no coração.
Serviço útil e incessante nos braços,
Simplicidade no estômago.
Boa direção nos pés.
Uso diário em temperatura de boa ­vontade.

José Grosso

 

A cruz de ouro e a cruz de palha

Alguns membros da Juventude Espírita do Distrito Federal e de Belo Horizonte visitavam o Chico.
Antes de começar a Sessão do LUIZ GONZAGA, palestravam animadamente sobre assunto de Doutrina e a tarefa destinada aos moços espíritas.
Uma jovem inteligente, desejando orientação e estímulo, colocou o Chico a par das dificuldades encontradas para vencerem o pessimismo de uns, a quietude e a incompreensão de muitos.
Poucos queriam trabalho sacrificial, testemunhador do Roteiro evangélico, que estava a exigir dos jovens uma vida limpa, correta, vestida de abnegação e renúncia.
Desejavam colher sem semear.
O Chico ouviu e considerou:
— O trabalho das Juventudes, com Jesus, tem que ser mesmo diferente.
Sua missão será muito difícil e por isso gloriosa. E recebe de Emmanuel esta elucidação envolvida na roupagem pobre de nosso pensamento:
— Há a cruz de ouro e a cruz de palha, simbolizando nossas Tarefas.
A de ouro, a mais procurada, pertence aos que querem brilhar, ver seus nomes nos jornais, citados, apontados, elogiados, como beneméritos.
Querem simpatia e bom conceito. Se tomam parte em alguma Instituição, desejam, nela, os lugares de mando e de evidência. Querem cargos e não encargos.
A de palha, a menos procurada, no entanto, pertence aos que trabalham como as abelhas, escondidamente e em silêncio.
Lutam e caminham, com humildade, na certeza de que por muito que façam, mais poderiam fazer. Não se ensoberbecem dos triunfos, antes se estimulam e se defendem com oração e vigilância, sentindo a responsabilidade que assumiram como chamados, por Jesus, à Tarefa Diferente.
Entendem a serventia das mãos e dos pés, dos olhos e da mente, do coração, enfim, colocando amor e humildade em seus atos, nos serviços que realizam.
Por carregarem a cruz de palha, toleram o vômito de um, o insulto de mais outro, a incompreensão de muitos, testemunhando a caridade desconhecida, oferecendo, com o sofrimento e a renúncia, com o silêncio e o bom exemplo, remédios salvadores aos companheiros que os adversam, os ferem e desconhecem a vitória da “segunda milha”.
Os jovens presentes estavam satisfeitos. De seus olhos, órgãos musicais da alma, saíam notas gratulatórias exornando o ambiente feliz que viviam.
De mais não precisavam.
Entenderam o Trabalho que lhes cabia realizar nas Terras do Brasil, o Coração do Mundo e a Pátria do Evangelho.
Linda lição com vista também aos velhos, a todos que conseguem ouvir Jesus na hora em que poucos O ouvem.

 

 

A pele do rinoceronte

Nas noites de segunda e sexta-feira, ele colocava o Evangelho segundo o Espiritismo, de Allan Kardec, embaixo do braço e ia para o Centro Luiz Gonzaga. Seguia à risca uma instrução ditada por Emmanuel: fidelidade irrestrita a Jesus Cristo e a Kardec, o codificador da doutrina espírita. O guia do outro mundo levava tão a sério este mandamento que um dia chegou a determinar a Chico:
- Se alguma vez eu lhe der um conselho que não esteja de acordo com Jesus e Kardec, fique do lado deles e procure me esquecer.
Chico demorava na cartilha espírita, praticava as lições de caridade, promovia sessões de desobsessão às quartas-feiras, mas o centro ficava cada dia mais vazio. José Hermínio Perácio e a mulher, Carmem, se mudaram para Belo Horizonte - precisavam ficar mais perto da família. José Xavier teve que trabalhar à noite numa oficina de arreios para pagar uma dívida. De repente, o rapaz se viu sozinho no barracão. Quando pensou em sair de fininho, ouviu a voz de Emmanuel.
- Você não pode se afastar.
- Como? Não temos freqüentadores.
- E nós? Nós também precisamos ouvir o Evangelho. Além disso, temos aqui vários "desencarnados" que precisam de ajuda. Abra a reunião na hora marcada e não encerre a sessão antes de duas horas de trabalho.
Chico seguiu as instruções. Às oito horas iniciava a reza de abertura da sessão. Em seguida, abria o Evangelho Segundo o Espiritismo ao acaso e comentava o capítulo em voz alta. Nessa época, começou a ver mortos e ouvir vozes com maior freqüência e nitidez. Os seres invisíveis ocupavam os bancos vazios.
Do lado de fora, vizinhos e parentes acompanhavam aquele espetáculo absurdo: o rapaz falava sozinho, gesticulava, rezava, duas horas seguidas. Uma das irmãs, uma noite, se pendurou na janela para ouvir o monólogo:
- Tenhamos fé em Jesus, minha irmã.
- ....
- Com paciência alcançaremos a paz.
- ...
- Sem calma, tudo piora.
- ...
A espectadora interrompeu a cena insólita:
- Com quem está conversando?
- Com a dona Chiquinha de Paula.
- Ela já morreu, Chico.
- Você é que pensa. Ela está bem viva.

A família ainda pensava em levar o rapaz a um bom hospício.
O padre Júlio Maria, da cidade mineira de Manhumirim, estava disposto a providenciar uma camisa- de- força para o espírita de Pedro Leopoldo. Todo mês, ele escrevia artigos para o jornal local, O Lutador, e fazia o favor de enviar suas opiniões pelo correio ao autor do Parnaso de Além Túmulo. Em nome de Jesus Cristo, os textos excomungavam o espiritismo, reduziam a pó a reencarnação e à piada o porta-voz dos mortos no Brasil. "Francisco Cândido Xavier deve ter a pele de um rinoceronte para suportar tantos espíritos", escreveu num dos seus manifestos.
Chico ficou engasgado e precisou da ajuda de Emmanuel para engolir o comentário.
Se você não tem a pele de rinoceronte, precisa ter, porque, se cultivar uma pele muito frágil, cairá sempre alfinetada.
O padre Júlio Maria espetou Chico Xavier durante treze anos. Só parou quando morreu. E, nesse dia, Chico ouviu um vozeirão de seu guia:
Vamos orar pelo nosso irmão Júlio Maria. Com ele sempre tivemos um cooperador maravilhoso. Dava-nos coragem na luta e concitava-nos a trabalhar.
A cada ataque dos céticos, Chico escutava Emmanuel bater sempre na mesma tecla:
- Não te aflijas com os que te atacam. O martelo que atormenta o prego com pancadas o faz mais seguro e mais firme.
O conselheiro invisível esquecia que martelos também entortam pregos.
Chico sentia os golpes e andava pela cidade arqueado, sob o peso da desconfiança alheia.
Em dezembro de 1932, o rapaz fechou os olhos e fincou o lápis no papel. As frases apareceram velozes e nada evangélicas. Eram endereçadas a ele mesmo.

Meu amigo,
Há um decênio que não me preocupo com as parvoíces da Terra. Nem presumia a possibilidade de enviar novamente para aí a minha futilíssima correspondência, quando alguém me insinuou a idéia de vir ditar-te minhas sandices.
Acometeu-me o desejo incoercível de atirar um dos meus petardos de troça no gênero bípede e estalar uma boa gargalhada, sonora e sã.
Foi o que fiz. Tentei a prova.
Focalizei no meu pensamento a idéia de vir ter contigo e bastou isso para que as minhas raras faculdades de fantasma me conduzisse a esse maravilhoso recanto sertanejo em que vives, esplendor de canto agreste, quase selvagem...Busquei aproximar-me da sua individualidade.
Vi-te finalmente. Lá surgias ao fim de uma rua bem cuidada, onde se alinhavam casas brancas e arejadas, brasileiríssimas, abarrotadas de ar, de saúde, de sol; vinhas com o passo cansado, pele suarenta a derrete-se dentro de roupas quase ensebadas, como os pés metidos em legítimos socos do Porto, obrigando-me a evocar o cais de Lisboa.
Sem que pudesses observar-me, submeti-te a demorado exame.
Procurei a tua bagagem de pensamento, encontrando tua mocidade tudo quanto a tristeza criou de mais sombrio; em tua alma amargurada, vi apenas porções de sofrimentos, pedaços de angústia esterilizadora, recordações tristonhas, lágrimas cristalizadas...Vi-te e ri-me. Ri-me da estultice do cérebro desequilibrado do asno humano, com o volumoso e pesado arquivo de baboseiras.
Cansado das lamúrias de Chico Xavier, o remetente da carta recomendava o bom humor como arma:
Convence-te de que se comete um ato desarrazoado, uma inqualificável imprudência, em chorar totalmente, em derreter-se inutilmente. Abandona essa exótica preocupação aos mais parvos do que tu. Ri-se o mundo de nós? Riamo-nos dele. Achincalhemos os seus arremedos aos gorilas, ridicularizemos as suas instituições, onde predominam a bandalheira, os seus pulos de cabra-cega; traduzamos a admiração que tudo isso nos desperta com o riso bom, que sempre apavorou os tímidos e insuficientes.

O recado tinha a assinatura de Eça de Queiroz. O escritor português, autor de "pecados" como O Crime do Padre Amaro, dava mostras não só de sarcasmo como também de boas doses de informação sobre a polêmica em torno de Parnaso do Além-Túmulo.
Após listar a série de teorias usadas pelos críticos para decifrar o enigma Chico Xavier- consciência, mediunidade, psicopatia, loucura, anormalidade, fenômeno, estupidez, espiritomania - o autor invisível não resistiu e levou à boa e velha ironia: " Vai continuando até que te receitem a enxovia ou o manicômio. No cárcere ou no sanatório, alcançaras um período de repouso. Não te apavores."

Semana depois, o rapaz colocou no papel um alerta sobre os riscos da vaidade e da ambição. Desta vez, quem assinava o texto era Maria João de Deus, sua mãe. Chico decorou cada palavra. Muitas delas eram golpes secos contra sua auto-estima. Para começo de conversa, ele não deveria encarar a mediunidade como uma dádiva, porque, imperfeito que era, não merecia favores de Deus. Uma metáfora barroca marcou sua história: "Seja tua mediunidade uma harpa melodiosa; porém, no dia em que receberes os favores do mundo como se estivesses vendendo, os seus acordes, ela se enferrujará para sempre".
Chico ficou atento às lições e passou a exercitar tanto o bom humor com a humildade ao longo dos anos.

Extraídos das páginas n° 53 a 57 do livro As Vidas de Chico Xavier, SOUTO Maior Marcel, Editora Pensamento, 2ª Edição revisada e comentada.

 

 

 

O jovem obstinado

Um irmão, residente em Pedro Leopoldo, encontrava­se com o Chico, à beira do caminho da Fazenda Modelo, vez por outra. Era um obstinado. Como que procurava o Médium para lhe experimentar a paciência. Não acreditava na reencarnação. E apresentava seus argumentos ilógicos. E atrás deste, outros assuntos vinham à tona, obstinando­se o nosso irmão nos seus pontos de vista incoerentes... O Chico, humildemente, lhe explicava o erro em que insistia e, principalmente, o de não querer esquecer mágoas e perdoar seus adversários, que ele mesmo os arranjava com sua teimosia irreverente... Os conselhos, a paciência entremostrada, nada convencia o inveterado birrento, que tinha lá seu modo diferente de ver as coisas e assim ficava e com isto experimentava os nervos de seus irmãos de trabalho. Um dia, já cansado de ser tentado e, entrevendo no encontro provocado, um abuso, disse­-lhe o Chico, séria e amorosamente:
—  Sabe de uma coisa, vim pelo caminho pensando em você e desejando­-lhe um bom remédio, isto é: uma reencarnação na qual tenha uma progenitora bem brava para lhe dar, de quando em quando, umas boas chineladas, a fim de deixar de ser tão teimoso com as coisas santas. O desejo correcional fez sorrir o irmão obstinado, que acabou sentindo­-lhe a sinceridade e deixando de ser teimoso e estorvo no caminho do querido médium. Este caso contou-nos o Irmão Manoel Diniz.

 

 

Duplo jejum

Se faz jejum espiritual constantemente, refreando a língua, cuidando do  pensamento, vigiando os olhos e demais sentidos, para não perder  a assistência de seus Mentores, o Chico também faz o jejum material abstendo­-se de comer o que gosta e lhe faz mal.

Há tempos, foi vítima de uma cólica hepática que lhe amargou  a existência por dois meses e fê­-lo rolar de dor, no quintal de sua casa. José Xavier, que foi seu irmão na Terra e que, hoje, no além, o ajuda na missão mediúnica, recomendou-­lhe que se alimentasse uma só vez por dia e mesmo assim de chuchus, batatas, pouquíssima carne e cozida em água e sal, e, à tarde, que tomasse, tão somente, uma chávena de chá com uma bolacha apenas. Sofreu o Chico bastante com a dieta recomendada. Uma de suas irmãs, às vezes, tentava­-o com lhe oferecer um pastel delicioso. Ele aceitava-­o, esfregava­-o nos lábios e, depois, arrependido, jogava-o às galinhas. Hoje, graças ao seu poder de vontade e à ajuda de seus Amigos da Espiritualidade, está curado. Venceu a dolorosa prova da alimentação. De 99 quilos passou para 74. Sente-se mais leve, com melhor saúde e sem a repetição das cólicas. Deus ajuda quem faz por onde. Belo exemplo, para todos nós, que nos achamos apegados a tantas coisas inúteis e nem sempre damos o primeiro passo para delas nos libertarmos como um preparo à vida espiritual, que nos espera e onde tudo é espiritualidade.

 

Água da Paz

Uma das histórias mais conhecidas a respeito de Chico é a da Água da Paz. Dizem que era muito comum, antes de se iniciarem as sessões no centro espírita Luiz Gonzaga, ocorrerem algumas discussões a respeito de mediunidade, especialmente provocadas por pessoas pouco esclarecidas sobre o assunto. Essa situação começou a provocar certa irritação em Chico, que tentava explicar o que acontecia, mas nem sempre era compreendido.

Num dos momentos de irritação, sua mãe apareceu a ele mais uma vez e ensinou-lhe uma forma simples para acabar com essa situação. “Para terminar suas inquietações”, ela falou, “use a Água da Paz”. Chico ficou contente com a solução e começou a procurar o medicamento nas farmácias de Pedro Leopoldo – sem sucesso. Procurou em Belo Horizonte, e nada. Duas semanas depois, ele contou à mãe que não estava encontrando a Água da Paz, ao que ela lhe disse: “Não precisa viajar para procurar. Você pode conseguir o remédio em casa mesmo. "Quando alguém lhe provocar irritações, pegue um copo de água do pote, beba um pouco e conserve o resto na boca. Não jogue fora nem engula. Enquanto durar a tentação de responder, deixe-a banhando a língua. Esta é a água da paz”. Chico entendeu o conselho, percebendo que havia recebido mais uma lição de humildade e silêncio.

 

A caridade e a oração

“O Centro Espírita Luiz Gonzaga” ia seguindo para a frente… Certa feita, alguns populares chegaram à reunião pedindo socorro para um cego acidentado.
O pobre mendigo, mal guiado por um companheiro ébrio, caíra sob o viaduto da Central do Brasil, na saída de Pedro Leopoldo para Matozinhos, precipitando-se ao solo, de uma altura de quatro metros. O guia desaparecera e o cego vertia sangue pela boca. Sozinho, sem ninguém…
Chico alugou pequeno pardieiro, onde o enfermo foi asilado para tratamento médico. Curioso facultativo receitou, graciosamente. Mas o velhinho precisava de enfermagem.
O médium velava junto dele à noite, mas durante o dia precisava atender às próprias obrigações na condição de caixeiro do Sr. José Felizardo.

Havia, por essa época, 1928, uma pequena folha semanal, em Pedro Leopoldo. E Chico providenciou para que fosse publicada uma solicitação, rogando o concurso de alguém que pudesse prestar serviços ao cego Cecílio, durante o dia, porque à noite, ele próprio se responsabilizaria pelo doente. Alguém que pudesse ajudar. Não importava que o auxílio viesse de espíritas, católicos ou ateus.
Seis dias se passaram sem que ninguém se oferecesse.
Ao fim da semana, porém, duas meretrizes muito conhecidas na cidade se apresentaram e disseram-lhe:
— Chico, lemos o pedido e aqui estamos. Se pudermos servir…
— Ah! Como não? — replicou o médium — Entrem, irmãs! Jesus há de abençoar-lhes a caridade.
Todas as noites, antes de sair, as mulheres oravam com o Chico, ao pé do enfermo. Decorrido um mês, quando o cego se restabeleceu, reuniram-se pela derradeira vez, em prece, com o velhinho feliz. Quando o Chico terminou a oração de agradecimento a Jesus, os quatro choravam. Então, uma delas disse ao médium:
— Chico, a prece modificou a nossa vida. Estamos a despedir-nos. Mudamonos para Belo Horizonte, a fim de trabalhar.
E uma passou a servir numa tinturaria, desencarnando anos depois e a outra conquistou o título de enfermeira, vivendo, ainda hoje, respeitada e feliz.

Fonte: Lindos casos de Chico Xavier por Ramiro Gama

 

O Receio da Prisão

Os sustos e apreensões de Chico, no decorrer do processo Humberto de Campos, foram enormes, acrescidos pela pouca experiência no que tange à justiça terrena.
Ao receber no Rio de Janeiro, uma carta precatória convocando-o a depor, os falatórios dos moradores da sua pequena cidade a respeito de sua iminente prisão, deixam-no apavorado. Nesta hora, esqueceu-se de tudo. Pensou mesmo em “dar um jeitinho”de salvar a pele.
Não tendo a quem apelar, para maior esclarecimento sobre o assunto, só lhe restava, muito a contragosto, orar e acalmar-se e implorar a Deus, aguardando o que viesse. Quem sabe a cadeia, humilhações, desprezos, chacotas. Nossa imaginação é sempre muito fértil numa hora desta!
Terminada a prece, Emmanuel vem em seu auxílio. Ele não lhe deu sequer tempo de pronunciar uma só palavra. Foi logo apelando:
- Meu Pai! Será que serei preso aqui, em Belo Horizonte, ou no Rio de Janeiro? Estou receoso e apreensivo. Se for aqui, talvez sofra menos, porque sou conhecido e todos os irmãos são piedosos e compreensivos, mas se for no Rio?
- Meu filho, você é uma planta muito fraca para suportar a força das ventanias...Tem ainda muito que lutar para um dia merecer ser preso e morrer pelo Cristo.

Ouvindo esta pequena, mas objetiva lição, ele caiu em prantos, disposto a aceitar corajosamente qualquer provação; sua fé aumentou, tornou-se inexpugnável. Na verdade, ninguém podia criticá-lo. Ser humano, como qualquer um de nós, era natural que se sentisse apavorado e perdido frente a tal inquérito. Não sabemos se cabe a lembrança mas Cristo, na cruz, teve também seu momento de angústia ao exclamar: “Pai, porque me abandonaste?”

 

 

 

Gratidão

Chico levantara-se cedo e, ao sair de charrete para a fazenda, encontra-se no caminho com o Flaviano que lhe diz: - Sabe quem morreu?
- Não!...
- O Juca, seu ex-patrão. Morreu na miséria, Chico, sem ter nem o que comer...
- Coitado! E Chico tira do bolso o lenço e enxuga os olhos.
- A que horas é o enterro?
- Creio que vão enterrá-lo a qualquer hora, como indigente, no caixão da Prefeitura, isto é, no rabecão...
Chico medita, emocionado, e pede: - Flaviano, faça-me um favor: vá a casa onde ele desencarnou e peça para esperarem um pouco. Vou ver se lhe arranjo um caixão, mesmo barato.
Flaviano despede-se e parte.
Chico desce da charrete. Manda um recado para seu chefe.
Recorda seu ex-patrão, figura humilde de bom servidor, que tanto bem lhe fizera. E ali mesmo, no caminho, envia uma prece a Jesus:
"Senhor, trata-se do meu ex-patrão, a quem tanto devo; que me socorreu nos momentos mais angustiosos, que me deu emprego com o qual socorri minha família; que tanto sofreu por minha causa. Que eu lhe pague, em parte, a gratidão que lhe devo. Ajude-me, Senhor".
E, tirando o chapéu da cabeça e virando-o de copa para baixo, à guisa de sacola, foi bater de porta em porta, pedindo uma esmola para comprar um caixão para enterrar o extinto amigo.
Daí a pouco, toda Pedro Leopoldo sabia do sucedido e estava perplexa, senão comovida com o ato do Chico.
Seu pai soube e veio ao seu encontro, tentando demovê-lo daquele peditório...
- Não, meu pai, não posso deixar de pagar tão grande dívida a quem tanto colaborou conosco.
Um pobre cego, muito conhecido em Pedro Leopoldo, é inteirado da nobre ação do Chico, a quem estima. Esbarra com ele:
- Por que tanta pressa, Chico?
- Meu Nego, estou pedindo esmolas para enterrar meu ex-patrão.
- Seu Juca!? Já soube. Coitado, tão bom! Espere aí, Chico. Tenho aqui algum dinheiro que me deram de esmolas ontem e hoje.E despejou no chapéu do Chico tudo o que havia arrecadado...
Chico olhou-lhe os olhos mortos e sem luz. Viu-os cheios de lágrimas. Comoveu-se mais.
- Obrigado, meu Nego! Que Jesus lhe pague o sacrifício.
Comprou, com o dinheiro esmolado, o caixão. Providenciou o enterro. Acompanhou-o até o cemitério.
E, já tarde, regressou à casa. Tinha vivido um grande dia.
Sentou-se à entrada da porta. Lá dentro, os irmãos e o pai observam-no comovidos.
Em prece muda, agradeceu a Jesus.
Emmanuel lhe aparece e lhe sorri. O sorriso do seu bondoso guia lhe diz tudo. Chico o entende.
Ganhara o dia, pagara uma dívida e dera de si um testemunho de humildade, de gratidão e de amor ao Divino Mestre.

Ramiro Gama in "Lindos Casos de Chico Xavier”

 

O médium Poderoso

Na noite de 11 de setembro de 1948, Chico Xavier e um amigo Isaltino Silveira, admiravam Pedro Leopoldo do alto de um morro, na beira de um riacho. Sentado numa pedra, sob a luz de um poste, Chico lançava sobre o papel um poema assinado por Cruz e Sousa. Isaltino substituia as páginas preenchidas por outras em branco. Os dois estavam às voltas com o poeta do além quando escutaram um barulho no mato. Eram passos. O amigo de Chico olhou para trás e levou um susto: um homem enorme, com olhos injetados, avançava na direção deles com um pedaço de pau na mão.
Isaltino levantou-se rápido e se preparou para enfrentar o agressor. Chico, já escaldado, continuou sentado. Sugeriu arma mais contundente: uma boa reza para emitir vibrações positivas. A poucos metros, o agressor parou e começou a balbuciar com a língua enrolada e os olhos fixos em Chico:
- Esta luz nas suas pernas...esta luz nas suas pernas.
Chico aconselhou:
- Vá para casa e fique na paz de Deus, meu filho.
Isaltino, já refeito do susto, viu o homem dar meia-volta e ficou perplexo diante de um fato insólito. O mato, em um raio de cinco metros ao redor do agressor, ficou todo amassado enquanto ele caminhava. Chico Xavier tentou explicar a história toda: o homem era médium poderoso, embora descuidado, e tinha sido arrancado da cama por espíritos obsessores, interessados em assassinar os dois e jogar seus corpos no rio. O plano daria certo se os benfeitores espirituais não tivessem envolvido a dupla com um cinturão de luz.
Isaltino ainda estava perplexo. Por que o agressor se referiu à luz nas pernas de chico?
A resposta veio rápida, como se fosse óbvia.
- Ele percebeu o foco que os espíritos projetavam sobre o papel durante a psicografia.
Por que o capim em torno dele se amassava?
- As tais entidades eram tão ruins que se utilizaram dos fluidos do médium e conseguiram peso específico para provocar os fenomeno físico. Eram aproximadamente duzentos espíritos.
Isaltino suou frio.

Livro: As vidas de Chico Xavier, Marcel Souto Maior

 

 

A Simplicidade e a Pureza de Chico Xavier: Um fato marcante

Jornalista — Poderia nos contar um fato ou uma passagem de sua vida que lhe traz melhores recordações e que mais lhe tocou o coração?
Resposta Chico—Peço permissão para contar um caso que para mim foi um dos mais expressivos, que mais parece uma história infantil. Eu estava em Uberaba, há uns dois anos, esperando um ônibus para ir ao cartório. Da nossa residência até lá tem uns três quilômetros. Nós, com o horário marcado, não podíamos perder o ônibus. Mas, quando o ônibus estava quase parando, uma criança, de uns cinco aups, apresentando bastante penúria, grita para mim, de longe. Chamava por Tio Chico, mas com muita ansiedade.
O ônibus parou e eu pedi, então, ao motorista: “Pode tocar o ônibus, porque aquela criança vem correndo em minha direção e estou supondo que este menino esteja em grande necessidade de alguma providência.” O ônibus seguiu, eu perdi, naturalmente, o horário.
A criança chegou ao meu lado, arfando, respirando com muita dificuldade. Eu perguntei: “O que aconteceu, meu filho?” Ele respondeu: Tio Chico, eu queria pedir ao senhor para me dar um beijo.
Esse eu acho que foi um dos acontecimentos mais importantes de minha vida".

Fonte: Jornal Estado de Minas –entrevistas publicadas em julho de 1980

 

 

Procissões de desagravo

Ouçamos um caso relatado pelo jornal “A Flama Espírita”, de Uberaba, do mês de agosto do ano 2000 (retirado da internet – estante literária da Espírita Vox):
– Contou-nos o prof. Lauro Pastor, residente em Campinas, amigo de Chico Xavier desde Pedro Leopoldo, que certa vez, ao visitá-lo, caminhando em sua companhia pelas ruas da cidade, se depararam com uma procissão... A Igreja matriz de Pedro Leopoldo ficava, como fica, na mesma rua onde se ergueu o Centro Espírita Luiz Gonzaga; à época, os católicos organizavam algumas procissões ditas de desagravo contra os espíritas.
Observando que a procissão, com diversos acompanhantes e andores, se aproximava, o prof. Lauro sugeriu a Chico que apressassem o passo, pois, caso contrário, não poderiam depois atravessar a rua, a menos que cortassem a procissão pelo meio, o que seria uma afronta.
Pedindo ao amigo que não se preocupasse, Chico parou na esquina e, enquanto a procissão seguia o seu roteiro, manteve-se o tempo todo em atitude de respeito e de oração, ainda convidando o amigo para que ambos se descobrissem, ou seja, tirassem o chapéu – sim, porquanto, naqueles idos de 1950, Chico também usava chapéu.
O prof. Lauro, que mantém ao lado da esposa, D. Daisy, um belíssimo trabalho de formação profissional para crianças carentes – tem uma escola de torneiros mecânicos –, disse-nos que nunca mais pôde esquecer aquela lição de tolerância religiosa que lhe foi dada por Chico, enfatizando ainda que foi dessa maneira que, aos poucos, o médium venceu a resistência de seus opositores da Doutrina.

por José Antônio Vieira de Paula, O Consolador - Um Minuto com Chico Xavier

 

 

O lavrador e a enxada

Chico Xavier, ainda hoje e há mais de vinte anos, é empregado na Fazenda de Criação do Ministério da Agricultura, em Pedro Leopoldo.
Certa manhã, caminhava para o trabalho, atravessando largo trecho de campo no rumo do escritório, meditando sobre os tra­balhos mediúnicos a que se confiava. As exigências eram sempre muitas. Como agir para equilibrar-se na tarefa? Surgiam doentes, pedindo socorro... Aflitos rogavam consolação. Curiosos reclamavam esclarecimentos...
Ateus insistiam pela obtenção de fé. Os problemas eram tantos!
Quando curvava a cabeça, desanimado, aparece-lhe Emmanuel e aponta-lhe um quadro a pequena distância. Era um lavrador ativo, manejando uma enxada ao sol nascente.
- Reparou? - disse ele ao Médium - guiada pelo cultivador, a enxada apenas procura servir.
Não pergunta se o terreno é seco ou pantanoso, se vai tocar o lodo ou ferir-se entre as pedras... Não indaga, se vai cooperar em sementeira de flores, batatas, milho ou feijão... Obedece ao lavrador e ajuda sempre.
Logo, após, fez uma pausa, e considerou:
- Nós somos a enxada nas mãos de Jesus, o Divino Semeador. Aprendamos a servir sem indagar.
Chico, tocado pelo ensinamento, experimentou iluminada renovação interior, e disse:
- É verdade! o desânimo é um veneno...
- Sim, - concluiu o orientador - a enxada que foge à glória do trabalho, cai na tragédia da ferrugem. Essa é a Lei.
O benfeitor despediu-se e o Médium abraçou o trabalho, naquele dia, de coração feliz e a alma nova.

 

O mendigo renitente

Narrou-nos Chico Xavier que um dia foi procurado por um médico seu particular, amigo de muitos anos, espírita militante e colaborador em suas obras psicografadas.
Ele queria saber o que fazer com um velho mendigo, que insistia em dormir no alpendre de sua casa. Não estava preocupado em tê-lo como hóspede em tão precário lugar mas, sim, com a má acomodação e a friagem da noite. Já o havia alertado de que se permanecesse ali acabaria por ficar doente.
Contudo, vendo que seus avisos eram ignorados, dedicou-se a arrumar um lugar onde o mendigo pudesse pernoitar. Depois de conseguir um quartinho na vizinhança, levou-o para lá.
Qual não fora sua surpresa ao dar com ele em sua varanda no dia seguinte!
Pensando que talvez não tivesse gostado do lugar, procurou um albergue que o tratasse melhor. De nada adiantara. O velho voltou a passar as noites no seu alpendre.
O médium então falou-nos:
- O que o médico amigo não sabia era que aquele espírito carregava consigo um grande complexo de culpa. Passei então a narrar-lhe as cenas que os amigos espirituais me haviam mostrado.
Aquele mendigo, doutor, na existência anterior havia sido um cruel fazendeiro que expulsara impiedosamente muitas famílias de suas terras, deixando-as ao relento, sem rumo...
Depois que desencarnou, a partir daquelas lembranças formara-se o complexo de culpa. E o sofrimento perdura até os dias atuais, não permitindo que ele permaneça alojado em lugar nenhum.
Chico concluiu:
- Então eu disse ao amigo: Não adianta tentar melhorar sua situação, deixe-o dormir no seu alpendre. Mais uns dias e ele procurará outro lugar para deitar-se ao relento. Essa situação perdurará até que o complexo de culpa deixe de atormentá-lo.
Em nossas cogitações, vem-nos à mente a lição: para exercer a caridade é necessário usarmos de bom senso e não insistirmos quando o necessitado se nega a receber o benefício. Sempre haverá uma razão que justifique situações como a que nos foi narrada.

Fonte: Sociedade Espírita Kardec Amor e Caridade

 

Chico e a luz do lampião

Lembro-me bem. Estávamos em peregrinação nos arredores da “Comunhão Espírita-Cristã” com Chico Xavier. Sábado à noite, antes da reunião pública.
A passos vagarosos, Chico caminhava de casa em casa, seguido por uma pequena multidão. Àquela época, as ruas do Parque das Américas eram escuras, esburacadas, e o matagal as invadia parcialmente, dificultando a movimentação.
Lilico era o confrade que carregava o lampião, clareando o caminho.
Certo sábado, Lilico adiantou-se em excesso – uns vinte metros – e ficamos para trás, mergulhados na escuridão. Havia chovido e as poças d’água eram numerosas. Ouvindo a reclamação da turma, Chico chamou Lilico, legando-nos preciosa lição:
- “Lilico, meu filho, espere por nós... A luz não deve ir nem muito adiante, nem muito atrás... Para que possamos enxergar, é preciso que ela caminhe ao nosso lado...”.
O companheiro do lampião deteve-se e pudemos alcançá-lo. Durante estes anos todos, temos pensado na luz do lampião, comparando o que Chico dissera a Lilico com as revelações que nos têm sido feitas pelo Mundo Espiritual. Às vezes, desejamos que os espíritos nos tragam novas informações e detalhes da vida além da morte, esquecendo-nos de que toda revelação deve ser gradativa. À medida que caminharmos nas sendas da evolução, novos caminhos nos irão sendo descortinados pela Luz da Doutrina Espírita. Porque se mostrou afoito com o lampião que conduzia, nosso amigo deixou-nos sem norte...
De que nos valeria uma luz assim?!
Não nos esqueçamos de que a vinda de Jesus – a Luz do Mundo! – até nós foi preparada com séculos de antecedência; Isaías, quase oitocentos anos antes, falava no Messias ansiosamente aguardado...
No natural dinamismo que lhe é próprio, o Espiritismo irá suspendendo o véu da Revelação, à proporção exata de nossas próprias luzes! Os médiuns e os espíritos que se precipitarem abortarão as suas idéias e nada mais conseguirão do que estabelecer a confusão em nome do personalismo e da vaidade.

Março de 1994. Texto extraído do livro “Chico Xavier, 70 Anos de Mediunidade” do autor Carlos A. Baccelli, Editora Didier.)

 

 

A história da chave

Com a saída do chefe da casa e dos filhos mais velhos para o trabalho e com a ausência das crianças na escola, Dona Cidália era obrigada, por vezes, a deixar a casa, a sós, porque devia buscar lenha, à distância.
Aí começou uma dificuldade. Certa vizinha, vendo a casa fechada, ia ao quintal e colhia as verduras. A madrasta bondosa preocupou-se. Sem verduras não haveria dinheiro para o serviço escolar.
Dona Cidália observou... Observou...
E ficou sabendo que lhes subtraía os recursos da horta; entretanto, repugnava-lhe a
ideia de ofender uma pessoa amiga por causa de repolhos e alfaces.
Chamou, então, o Chico e lembrou.
— Meu filho, você diz que, às vezes, encontra o Espírito de Dona Maria. Peça-lhe um
conselho. Nossa horta está desaparecendo e, sem ela, como sustentar o serviço da escola?
Chico procurou o quintal à tardinha e rezou e, como das outras vezes, a mãezinha apareceu.
O menino contou-lhe o que se passava e pediu-lhe socorro.
D. Maria então lhe disse:
— Você diga à Cidália que realmente não devemos brigar com os vizinhos que são sempre pessoas de quem necessitamos. Será então aconselhável que ela dê a chave da casa à amiga que vem talando a horta, sempre que precise ausentar-se, porque, desse modo a vizinha, ao invés de prejudicar os legumes, nos ajudará a tomar conta deles.
Dona Cidália achou o conselho excelente e cumpriu a determinação. Foi assim que a vizinha não mais tocou nas hortaliças, porque passou a responsabilizar - se pela casa inteira.

Do livro Lindos Casos de Chico Xavier. Ramiro Gama.

 

 

O homem dos vinte contos

Um amigo de Belo Horizonte disse, um dia, ao Chico:
— Tenho ido ao Centro “Luiz Gonzaga”, sempre que me é possível, e, nas preces, tenho rogado a Loteria.
E vendo a estranheza do médium acentuou:
— Se eu ganhar, darei ao “Luiz Gonzaga” vinte contos.
Os dias correram e o homem ganhou a sorte grande. Duzentos mil cruzeiros.
Quando isso aconteceu, sumiu de Pedro Leopoldo…
Se via o Chico por Belo Horizonte, evitava-lhe a presença.
— Imaginem! — costumava dizer na prosperidade crescente que o Céu lhe concedera — em minha ingenuidade, prometi uma dádiva a um Centro Espírita, se melhorasse de sorte! Quanta asneira falamos sem perceber!
Catorze anos rolaram e o homem da sorte grande morreu… Passados alguns dias, apareceu, em Espírito, numa das sessões do “Centro Espírita Luiz Gonzaga”.
— Chico! Chico! — disse ao médium, buscando abraçá-lo
— preciso pagar a minha dívida! Estou devendo vinte contos ao “Luiz Gonzaga” e vou trazer o dinheiro…
— Acalme-se, meu amigo, agora é tarde — respondeu o médium, — o câmbio mudou para você. Não se preocupe. A sua fortuna está em outras mãos.
— Por que? Nada disso… O dinheiro é meu…
— Já foi, meu irmão! Você está desencarnado.
A entidade gritou… gritou… e acabou perguntando em lágrimas:
— E, agora, que fazer?
Mas o Chico lhe respondeu:
— Esqueça-se da Terra, meu amigo. Nós todos somos devedores de Jesus. Paguemos a Jesus nossas contas e tudo estará bem.
Amparado pelos benfeitores espirituais da casa, o homem dos vinte contos, já desencarnado, retirou-se chorando.

Livro: Lindos casos de Chico Xavier por Ramiro Gama

 

 

O evangelho

Chico Xavier disse que Emmanuel contou que de vez em quando ele vai ao plano espiritual assistir cursos de Evangelho e lá ele se sente pequeno. Por que? Porque o Evangelho está há pelo menos 20 bilhões de anos a nossa frente. Nosso olhar hojepara o Evangelho é um. Daqui um milhão de anos será outro e assim por diante.
Um companheiro espírita, certa vez, disse à Chico Xavier:
- Chico, o Evangelho está ultrapassado.
Chico respondeu:
- Emmanuel está aqui e pede para dizer a vocês que o Evangelho só vai ficar ultrapassado o dia em que toda a humanidade colocá-lo em prática.

 

A sua peruca

Como todos sabem, ele é bastante calvo.
Um dia, apareceu perante o grande público com a aparência física completamente mudada, elegantemente vestido e com peruca preta em tons grisalhos. Foi um Deus nos acuda!
A notícia correu célere por todo o Brasil. Muita maledicência, inclusive dos próprios confrades espíritas, a dizer que "estava obsediado", "virara grã-fino", "ocultara a vaidade", até dizerem que "se julgava um galã".
A este respeito Chico diz:
"Devemos cuidar de nossa aparência física, como cuidamos da parte espiritual. Não sou vaidoso de mim mesmo, pois tudo o que fiz não foi feito por mim, mas pelos espíritos; devo a Emmanuel tudo o que sou."
Esta foi uma das justificativas de vestir-se melhor e usar peruca, mas existe outro motivo bem grave, que o público desconhece. Ele está com feridas na cabeça, desagradáveis a quem as vê, e a peruca, embora irrite o couro cabeludo e as feridas, oculta mais este sofrimento físico. É um fardo que carrega, chegando a confessar que sua vontade, às vezes, é arrancá-la.
Vejam os leitores como é fácil julgar, sem conhecer as verdadeiras causas do réu.

"Nosso Amigo Chico Xavier (50 anos de Mediunidade)", Luciano Napoleão da Costa e Silva - Nova Mensagem Editorial Ltda. / 1977

 

 

Por que Chico Xavier nunca se casou?

Chico Xavier: Solteiro, celibatário, enaltece a vida familiar, perguntado por que não se casou, ele responde:
"Porque não casei? Isso é pergunta que todo jornalista me faz. Foi para não misturar mediunidade com casamento. Podia achar uma moça que me atrapalhasse, que não gostasse do Espiritismo...", mas ele achava que Deus e os espíritos privaram-no de um amor particular, para devotá-lo ao amor geral, seria muito difícil servir a todos e a uma família. Dizia também: "Resisti aos impulsos, e não foi fácil. Outro dia, a grande poetisa goiana Cora Coralina dizia a uma repórter que os velhos, mesmo os velhos, têm direito aos sonhos eróticos, sonhos maravilhosos...", sorria.

Como poderia desempenhar seu mandato mediúnico se tivesse se casado?

Chico Xavier: "Posso informar... que tenho sido o instrumento para a produção de livros dos nossos amigos espirituais e, segundo eles mesmos, só tenho conseguido isto renunciando à felicidade do casamento. Para que os livros nascessem das minhas pobres faculdades de modo mais intenso no aproveitamento do tempo disponível na reencarnação, diz-nos o nosso Emannuel, foi preciso que eu aceitasse a existência em que me encontro, na qual o matrimônio, nos preceitos da vida física, não seria possível. Isto, inobstante, não quer dizer que a mediunidade crie antagonismos entre médium e casamento terrestre, mas sim que determinadas tarefas mediúnicas requisitam condições especiais para que se façam cumpridas. De outra forma, como seria possível uma maternidade-paternidade de todos estes livros, ou filhos?"
(do livro "A Ponte - Diálogos com Chico Xavier)

 

 

Caso Chico Xavier - Aliens de 3 metros e corpo esquelético

Por Pedro de Campos
Dentre as pessoas que temos a honra de conhecer está Geraldo Lemos Neto. Desde o lançamento de Lentulus, encarnações de Emmanuel – Inquirição histórica, tivemos a satisfação de ver o nosso livro no prestigioso site da editora Vinha de Luz. Depois, por ocasião dos nossos trabalhos sobre a Epístola Lentuli - Parte 1, Parte 2 e Parte 3 - publicados na Espiritismo & Ciência a partir de junho de 2011 (números 87, 89 e 91), Geraldo repercutiu na internet as pesquisas históricas para todos os interessados. Geraldinho, como era chamado carinhosamente pelo nosso saudoso Francisco Cândido Xavier, após a desencarnação do conhecido médium fundou em Pedro Leopoldo, estado de Minas Gerais, um museu com as coisas do Chico. A Casa de Chico Xavier é hoje uma referência turística obrigatória para quem vai àquela região de Minas Gerais.

Geraldinho se lembrou de uma frase dos tempos de Cristo: “Se vos falo das coisas terrestres e não me credes, como crereis se vos falar das coisas dos céus?” Jo 3,12. A frase parecia se encaixar aos dias atuais, porque quando Chico lhe contou sobre a questão alienígena também foi difícil acreditar – se engana quem pensa que Chico não teve contato com os UFOs. Quanto a nós, quando pedimos permissão a Geraldinho para publicar aqui o seu testemunho, ele nos disse com tranquilidade: “Fique totalmente à vontade Pedro, caso queira divulgar essa experiência, porque creio que os tempos são chegados e precisamos amadurecer mais com as informações de Chico Xavier”.

Contou-nos que há muito desejava relatar este caso. Ficara sabendo da ocorrência quando de suas conversas com o prestigioso médium e não vira ninguém contá-la até então. Aproveitou para fazer isso neste 2 de Abril de 2012, data em que Chico, caso estivesse entre nós, estaria completando mais um aniversário. Na casa de Chico, em Uberaba, por ocasião de suas conversas com o médium, as quais se prolongavam às vezes até a madrugada, Geraldinho gostava de perguntar sobre as coisas do universo, das galáxias e suas nebulosas, das estrelas e planetas que se movimentam ao derredor. Chico lhe falava com muita vivacidade sobre esses assuntos, inclusive sobre a existência de humanidades muito mais avançadas que a nossa, espalhadas por esses Multiversos sem fim. Certa feita, de modo surpreendente, Chico contou a ele que já havia estado com visitantes de outros orbes, mas quando Geraldinho disse que sua vontade era um dia também conhecê-los, o médium foi enfático e contou-lhe a ocorrência.

“Você deve ter muito cuidado Geraldinho – disse Chico preocupado –, porque embora a maioria das civilizações que já desvendaram os segredos das viagens interplanetárias seja de grande evolução espiritual, votadas ao bem e à fraternidade, há também aquelas que somente se desenvolveram no campo da técnica, enregelando os sentimentos mais nobres do coração. Representantes dessa outra turma também têm nos visitado, mas com objetivos escusos... Para eles nós somos tão atrasados que eles não prestam nenhuma atenção às nossas necessidades e aos nossos sentimentos. São eles que raptam pessoas e animais para experiências horrorosas em suas naves. Quanto a esta turma, devemos ter muito cuidado”. O médium parou, pensou, e prosseguiu em seguida contado sua experiência pessoal.
“Uma vez eu estava indo de Uberaba a Franca e, depois, a Ribeirão Preto para visitar a irmã do Vivaldo [Vivaldo da Cunha Borges, cunhado de Geraldinho], Eliana, que havia passado por uma cirurgia no coração nesta última cidade. O doutor Elias Barbosa foi dirigindo o automóvel na companhia de Vivaldo e eu, que fiquei no banco detrás. Pois bem, íamos lá pelas 3 horas da manhã para evitar o trânsito, e a meio caminho uma luz meio baça, na cor alaranjada envolveu o automóvel e passou a segui-lo. O doutor Elias achou por bem encostar o carro e esperamos os três para ver o que ia acontecer. Intuitivamente comecei a orar, pedindo aos amigos que me acompanhassem na prece. O espírito Emmanuel se fez presente e nos solicitou redobrada vigilância. A nave apareceu então no pasto ao lado, iluminando toda a natureza em torno com a sua luz alaranjada e baça. Ela pairou no ar sem tocar o solo, e do meio dela saiu uma luz mais clara ainda, de onde desceu uma entidade alienígena. Ela tinha uma aparência humanóide, mas muito mais alta que nós, com cerca de três metros de altura, quase esquelética.
“Senti um medo instintivo e roguei ao Senhor que nos afastasse daquele cálice de amarguras, que pressentia com o auxílio de Emmanuel. Subitamente a entidade parou e desistiu de nós, retornando para a sua nave. Depois, o veículo interplanetário se elevou do solo e eu vi perfeitamente uma vaca sendo levada até o seu interior, como se levitasse até lá. Em seguida, a nave desapareceu de nossas vistas com velocidade espantosa.
“O espírito Emmanuel me revelou então que estes irmãos infelizmente não eram vinculados ao bem e ao amor, eram sociedades que pilhavam planetas em busca de experiências genéticas estranhas. De vez em quando, abduzem homens e animais para suas aventuras laboratoriais. Segundo Emmanuel, eles somente não fazem mais porque Nosso Senhor Jesus estabeleceu normas e guardiães para proteger a humanidade terrestre ainda tão ignorante quanto às realidades siderais em sua infância planetária. “Então, meu filho – asseverou Chico –, se você avistar alguma entidade com as características que eu lhe dei, três metros de altura e corpo humanóide esquelético, corra, Geraldinho... Pernas pra que te quero!!!”

E Chico desatou seu riso tão característico. Embora na ocasião do contato estivesse ele preocupado, estava agora feliz por ter vivido essa e outras experiências. Geraldinho, por sua vez, não conteve a pergunta, quis saber se havia também os aliens bonzinhos, ao que Chico comentou outra experiência.

“Ah! São magníficos! Os que eu conheci são criaturas de muito baixa estatura, cerca de um metro apenas. São grandes inteligências e por isto mesmo têm uma cabeça de tamanho avantajado em relação à nossa, com grandes olhos amendoados e meigos, capazes de divisar todas as faixas de vida nos diversos planos de matéria física e espiritual. Não possuem nariz, orelhas e sua boca é apenas um pequeno orifício. Seus sistemas fisiológicos são muito diferentes dos nossos e já não possuem intestinos. Toda a sua alimentação é apenas líquida. São de uma bondade extraordinária e protegem a civilização terrena assumindo um compromisso com Jesus de nos guiar para o bem. Um dia, Geraldinho, que não vai longe, eles terão permissão do Cristo para se apresentarem a nós à luz do dia, trazendo-nos avanços tecnológicos, médicos e científicos nunca dantes imaginados.”

Com essas palavras, Geraldinho ficou imaginando como o universo deve ser vasto, e quanto o Chico sabia sobre ele e ficava calado. Certa feita, Chico falou que Plutão era uma espécie de prisão espiritual, um isolamento milenar de espíritos endividados por crimes contra a humanidade, para eles mesmos se protegem das multidões de hordas vingativas e repensarem os seus atos criminosos do passado. Semelhante a Plutão, Mercúrio e Lua também são esferas em que vibram espíritos com grandes débitos, cada qual com seu grau evolutivo e vivendo experiências reparadoras. Mas nesses isolamentos não estão eles sem o amparo da Providência divina, que se faz presente ali por meio de espíritos de elevada expressão, verdadeiros mestres da paz em missão do bem. Chico era capaz de falar sobre os mistérios da vida no mais além. “E com que simplicidade e naturalidade ele nos falava dessas coisas dos céus”, finalizou saudoso o administrador da Casa de Chico Xavier.

Por Pedro de Campos

 

(Pedro de Campos é autor dos livros: Colônia Capella – A outra face de Adão; Universo Profundo; UFO – Fenômeno de Contato; Um Vermelho Encarnado no Céu; Os Escolhidos da Ufologia na Interpretação Espírita, publicados pela Lúmen Editorial. E também do recém-lançamento: Lentulus – Encarnações de Emmanuel. E dos DVDs Os Aliens na Visão Espírita, Parte 1 e Parte 2, lançados pela Revista UFO. )

 

 

Fontes:
Sociedade Espírita Kardec Amor e Caridade
livro "A Ponte - Diálogos com Chico Xavier;
"Nosso Amigo Chico Xavier (50 anos de Mediunidade)", Luciano Napoleão da Costa e Silva - Nova Mensagem Editorial Ltda. / 1977
Livro: Lindos casos de Chico Xavier por Ramiro Gama
Março de 1994. “Chico Xavier, 70 Anos de Mediunidade” do autor Carlos A. Baccelli, Editora Didier.
O Consolador - Um Minuto com Chico Xavier, por José Antônio Vieira de Paula, 
Jornal Estado de Minas –entrevistas publicadas em julho de 1980
livro As Vidas de Chico Xavier, SOUTO Maior Marcel, Editora Pensamento, 2ª Edição

 

 

 

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